ENÉAS LOUR É ATOR, DRAMATURGO, CENÓGRAFO E DIRETOR TEATRAL

22 de nov. de 2011

24 de out. de 2011

MEUS OLHOS ESTÃO DEGRINGOLADOS





Por Valmir Santos

A Súbita Companhia de Teatro
ergue uma cena francamente verborrágica sobre o indizível.

A palavra é veemente desde o título:
Meus Olhos Estão Degringolados
adaptação da diretora Maíra Lour para texto
do romancista americano Jonathan Safren Foer.

O verbo também está no coração da vida incomum
de um casal sob o mesmo teto,
partilhando a mesma máquina de escrever
e separados por muros, corredores,
demarcações territoriais de “algo” e “nada”
equilibrados segundo as convenções
desse homem e dessa mulher,
trazidos à cena por Otavio Linhares e Janaina Matter.

Os signos constitutivos da linguagem
os fazem suportar um ao outro.
Seria, grosso modo, a evolução de uma história de amor,
sua ascensão e queda.

A compressão temporal e espacial
é feita de falas curtas, numa espiral de exasperação dele, escritor estancado, diante do talento dela ao jorrar e apropriar-se do mesmo ofício.

A cena trata dessa perpendicular de duas pessoas
desmagnetizadas aos poucos, ampliando as distâncias.

No espaço austero da encenação,
linhas e embaraçamentos geográficos traduzem
as inquietações em movimentos, gestos e ações dos atores,
fluídos e interrompidos.

À tessitura da palavra soma-se o vocabulário da luz
(sombras narradoras de situações íntimas, por Daniele Régis)
e da música como exceção ao silêncio dominante
(o acordeão irrompendo com a dolência de Edith de Camargo).

Toda separação precipita sua sinfonia.

Postado por Mostra Cena Breve Curitiba

13 de out. de 2011

AMANHÃ É MEU ANOVERSÁRIO


PRESENTE DO INDICATIVO

(Expressa o fato no momento em que se fala)

 
A solidão é moeda de duas caras: o passado e o presente.

Nunca me acostumei com o presente.
Com o passado - vá lá! - tenho que me acostumar com ele,
visto que não tenho outro passado que não o meu.
Mas, com o presente?
Com o presente não consigo me acostumar.

O presente é muito perto. É muito curto.
Mal se experimenta e ele já se torna passado,
quase instantaneamente! Verbo freqüentativo.

Criei uma casca, um entre parênteses,
feito ostra, que me protege do presente
e isola-me dele, feito roupa de borracha
para mergulho em águas geladas.

Mas, não vivo do passado também.
Não! Vivo do futuro. Vivo de fantasia.

Sou ator e o teatro me deu isso
de presente para usar todos os dias.

A realidade cotidiana para mim
se compõe no futuro do pretérito.

Assim, para mim, os fatos futuros
se me apresentam sempre como que
relacionados a fatos acontecidos no passado
e, portanto, já meus conhecidos.

Eles,
os fatos presentes,
teimam em ir buscar raízes lá, no meu passado.
E isto é tormenta, é cabresto, é limite,
é fronteira intransponível, como os verbos intransitivos.

Quando faço aniversário, por exemplo,
relaciono o futuro, aquilo que virá ainda,
com o que já foi em todos os outros anos
passados e engomados.

Profetizo, na véspera da minha data natalícia,
que, a partir dali tudo será como foi antes,
nos outros anos corridos e engavetados:

Pretérito perfeito:
ficarei feliz, ficarei mais velho, ficarei sozinho.

O pretérito mais-que-perfeito
é um tempo verbal que se refere
ao passado do passado.

Enéas Lour
13 de outubro de 2011.

10 de out. de 2011

"Otto e Maria" Novo texto de Enéas Lour


Fui selecionado no Edital Oraci Gemba 2011 
- Novas Dramaturgias -
da Fundação Cultural de Curitiba
e estou escrevendo o texto de uma nova peça teatral
intitulada "Otto e Maria".
Tenho até julho de 2012 para entregar o texto original
para a publicação pela FCC.
Estou na fase de pequisa sobre o tema.
Uma estória de amor entre o filho de um poderoso senhor
de origem germânica filiado ao Partido Nazista
e uma mulher brasileira
nos anos da Segunda Guerra Mundial, em Curitiba.

Abaixo vão alumas fotos que coletei na pesquisa.








Há muito tempo as peças teatrais de minha autoria
têm como foco principal de narrativa a História da cidade de Curitiba.

Esta característica de minha produção dramatúrgica inicia-se
com criação da peça TRECENTINA, em 1994,
numa parceria autoral com Mário Schoemberger.

Naquela peça a cidade de Curitiba,
prestes a completar 300 anos de fundação
era a “principal personagem”.

Pesquisamos a história de nossa cidade e
com um grupo de 11 atores criamos uma obra satírica que,
devido ao seu grande sucesso de público e de crítica,
oportunizou a criação e encenação de mais três novas versões
desta obra intituladas:
Trecentina II (1995), 3centina (1997) e Trecentina 500 (2000).

Para a historiadora e professora Marta Moraes
e o pesquisador Ignácio Dotto Neto,
autores do livro “CONTRA CENA - O TEATRO EM CURITIBA”,
a peça “Trecentina” mudou o panorama da comédia em Curitiba.

Antes disso eu já havia pesquisado a História do Paraná,
como tema da minha peça “Pinha, Pinhão, Pinheiro”,
pela qual recebi o Prêmio Governador do Estado em 1985.

Em 2008 escrevi o texto
“Hanna Kowalick, A Bruxa De Curitiba”
no qual, mais uma vez abordo a temática da história de nossa cidade
no período de 1884 até 1903.
Por este texto recebi o Prêmio Oraci Gemba
de Fomento à Dramaturgia, da FCC / 2008.

Assim, apresento como justificativa
para a execução deste meu novo projeto,
a importância de que se reveste o incentivo
do poder público municipal aos dramaturgos,
para a realização de pesquisas e criação de textos,
em especial àquelas obras que promovam o resgate histórico.

Minha intenção com o projeto “Otto e Maria”
é justamente esta, qual seja:
pesquisar e criar um texto teatral que traga à cena
uma história ficcional baseada em fatos reais ocorridos em nossa cidade.

No caso desse novo projeto:
uma história de amor entre um jovem de descendência germânica,
filho de um influente cidadão curitibano que,
na época da Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945),
era adepto do pensamento nazista,
como de fato houve muitos cidadãos curitibanos
que apoiaram Hitler naquela época,
conforme pesquisa que realizamos junto ao Arquivo Público
e outras fontes bibliográficas.

Este rapaz – Otto - se apaixona por uma moça brasileira
não “ariana” chamada Maria.

Evidentemente meu texto não proclama, de nenhuma maneira,
a ideologia nazista, ao contrário,
a contesta veementemente quando expõe sua completa sandice.

Nossa intenção enquanto dramaturgo
limita-se ao registro histórico de alguns fatos
realmente acontecidos naquela época em nossa cidade,
acrescendo a trama com elementos ficcionais,
sem qualquer pregação doutrinária, política ou filosófica.

Enéas Lour
Outubro / 2011

19 de ago. de 2011

DIA DO ATOR

Eu tive a honra e o prazer de atuar duas vezes
ao lado de Paulo Autran
na peça "Galileu Galilei" (1989)
com direção de Celso Nunes e 
"Alguém Lá Em Cima Gosta De Mim" (1994)
com direção de Cecil Thirré.
Na semana passada Paulo foi declarado oficialmente
PATRONO DO TEATRO BRASILEIRO.

Homenagem mais do que merecida
a este grande ator falecido no dia
12 de outubro de 2007.


3 de ago. de 2011

UMA NOITE COM AGATHA CHRISTIE

 PRÉ - ESTRÉIA DIA 19 DE AGOSTO

ELENCO E PERSONAGENS DA PEÇA

 ANA MARY FORTES

CARLOS VALENTE

 SIMONE NERCOLINI

 DULCE FURTADO

ZECA CENOVICZ (ATOR CONVIDADO)

 DANIELE TEMPSKI

MARI HARO

 HELENA VEIGA

 INÊS DE MACEDO

 MARCO CHIOCCA

MARIANE PACHECO BRAGA




Sesi Teatro apresenta
“Réquiem”

Data: 6 de agosto, às 20h e 7 de agosto, às 19h

Local:
Teatro SESI CIETEP - Av. Com. Franco, 1341 – Jardim Botânico

Informações: 0800 6480088 ou http://www.sesipr.org.br/sesicultural

Ingressos:
R$ 30 e R$ 15 (meia-entrada para trabalhador da indústria
e funcionários do sistema FIEP, estudantes e terceira idade).

Local de venda:
Disk Ingressos 3315 0808 e quiosque nos shoppings Mueller, Estação e Total

Estacionamento gratuito.

25 de jul. de 2011

Dona Maria Rosa e o Seu Luis Roberto

DUPLA DINÂMICA

Maria Rosa Inoue e Luis Roberto Bruel:
Ela : Atriz, Produtora, Diretora
e Gente Boa da Mais Alta Qualidade.
Ele : Iluminador, marido da Regina Bastos (grande atriz)
e também Gente Boa da Mais Alta Qualidade.
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17 de jun. de 2011

A BRIGITTE BARDOT - TOM ZÉ


O ATOR


O ATOR

Texto de autoria de Plínio Marcos

Por mais que as cruentas e inglórias
Batalhas do cotidiano
Tornem um homem duro ou cínico
O suficiente para fazê-lo indiferente
Às desgraças e alegrias coletivas,
Sempre haverá no seu coração,
Por minúsculo que seja,
Um recanto suave
Onde ele guarda ecos dos sons
De algum momento de amor já vivido.

Bendito seja
Quem souber dirigir-se
A esse homem
Que se deixou endurecer,
De forma a atingi-lo
No pequeno, porém macio,
Núcleo da sua sensibilidade.

E por aí despertá-lo,
Tirá-lo da apatia,
Essa grotesca
Forma de autodestruição
A que, por desencanto
Ou medo, se sujeita.

E por aí inquietá-lo
E comovê-lo para
As lutas comuns da libertação.

O ator tem esse dom.
Ele tem o talento de atingir as pessoas
Nos pontos onde não existem defesas.
O ator, não o autor ou o diretor,
Tem esse dom.

Por isso o artista do teatro é o ator.
O público vai ao teatro por causa dele.
O autor e o diretor só são bons na medida
Em que dão margem a grandes interpretações.

Mas, o ator deve se conscientizar
De que é um cristo da humanidade:
Seu talento é muito mais
Uma condenação do que uma dádiva.
Ele tem que saber que, para ser
Um ator de verdade, vai ter que fazer
Mil e uma renúncias, mil e um sacrifícios.

É preciso coragem,
Muita humildade e, sobretudo,
Um transbordamento de amor fraterno
Para abdicar da própria personalidade
Em favor de seus personagens,
Com a única intenção de fazer
A sociedade entender
Que o ser humano não tem
Instintos e sensibilidades padronizados,
Como pretendem os hipócritas
Com seus códigos de ética.

Amo o ator
Nas suas alucinantes variações de humor,
Nas suas crises de euforia ou depressão.
Amo o ator no desespero de sua insegurança,
Quando ele, como viajante solitário,
Sem a bússola da fé ou da ideologia,
É obrigado a vagar pelos labirintos de sua mente
Procurando, no seu mais secreto íntimo,
Afinidades com as distorções de caráter
De sua personagem.

Amo o ator
Mais ainda quando,
Depois de tantos martírios,
Surge no palco com segurança,
Oferecendo seu corpo, sua voz,
Sua alma, sua sensibilidade
Para expor, sem nenhuma reserva,
Toda a fragilidade do ser humano
Reprimido, violentado.

Amo o ator por se emprestar inteiro
Para expor à platéia
Os aleijões da alma humana,
Com a única finalidade
De que o público
Se compreenda, se fortaleça
E caminhe no rumo
De um mundo melhor,
A ser construído
Pela harmonia e pelo amor.

Amo o ator
Consciente de que
A recompensa possível
Não é o dinheiro, nem o aplauso,
Mas, sim, a esperança de poder
Rir todos os risos
E chorar todos os prantos.

Amo o ator consciente de que,
No palco, cada palavra
E cada gesto são efêmeros,
Pois nada registra nem documenta
Sua grandeza.

Amo o ator e por ele amo o teatro.
Sei que é por ele que
O teatro é eterno
E jamais será superado
Por qualquer arte que
Se valha da técnica mecânica.

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2 de jun. de 2011

CURITIBA ZERO GRAU - O FILME




EU ODEIO SHOPPING CENTER


EU ODEIO SHOPPING CENTER

Eu nunca vou a “shopping centers” porque não gosto de “shopping centers”.

Aliás, eu odeio os “shopping centers” com suas luzes frias, seus corredores sempre limpos, suas flores de plástico, suas vitrines assépticas expondo os vestidinhos da moda e os sutiãs da moda e as calcinhas da moda e sapatinhos na cor da moda da estação: púrpura.
Odeio aqueles seguranças com ternos azuis e radinhos fanhos e roucos. Odeio as praças-de-alimentação e os copos de papel. Odeio o cheiro de germicida dos banheiros dos “shoppings centers”. Odeio o frio do ar condicionado e os carros do sorteio estacionados no meio do corredor central. Odeio as menininhas que distribuem “flyers”. Odeio os estacionamentos fedendo a etanol, todos iguais e com nomes estúpidos: Piso Primavera, Piso Escarlate, Piso Oriental, etc... Odeio, simplesmente.

Ontem fui a um “shopping center” para resolver um problema com o celular da minha mulher.
Na entrada: fila de carros.
No estacionamento não há vagas em nenhum dos cinco pisos iguais, lotados.
No elevador um cheiro de perfume barato, desodorante.

A porta automática se abre e o ar se modifica, torna-se gélido, seco. A luz se esparrama: branca. E uma música estúpida disputa espaço com uma mulher fanha chamando uma “monitora” : 
Virgínia: comparecer – urgente - ao setor 21.
E repete e repete.

São mil casais de meia idade, de mãos dadas, babando em frente as vitrines.
São três mil crianças lambendo sorvetes e “frozen iogurtes” o lançamento saudável do momento.
São dez mil adolescentes, aos bandos de três ou cinco, perambulando pelas escadas rolantes com suas calças arriadas e cabelos ornamentados como aquela cantora ou aquele jogador de futebol da capa da revista.
São milhões de vozes liquidificadas naqueles salões consumistas.

Andamos e a cada passo me assombro mais:  

Nos sofás de napa ou corino espalhados pelo espaço, estão senhores e senhoras embasbacados de prazer por estarem ali. Sentam-se e assistem comerciais disto e daquilo nos retangulares aparelhos de TV HD. Saíram de suas casas para estar ali assistindo aqueles comerciais de carros, de eletro-eletrônicos, de colchões, de agências de viagens e de bancos onde correm lindas modelos por praias e montanhas e campos, com seus cabelos limpos com o melhor shampoo. E sorriem - os modelos nas telinhas e os espectadores nos sofás do "shopping center" - deliciando-se com a sua vida tão moderna.

No quiosque da TIM são minutos apenas, mas, parecem horas que se passam enquanto o atendente resolve nosso problema com o telefone teclando freneticamente o seu laptop sobre a bancada de plástico azul brilhante.

O desfile continua pelo corredor central em nossa volta.
São alegorias espetaculares, como as da Marquês de Sapucaí.
Por exemplo: uma mulher, de seus mais que quarenta anos, loira e usando uma roupa justa, não, justa é pouco, uma roupa colante é mais apropriado. Pois, esta senhora passa por nós exibindo os contornos roliços de seu corpo, que mal cabem ali dentro da tal roupa justa, e, mais ainda, como se ela fora de circo, equilibra-se a tal, sobre um par de sapatos com uns doze centímetros de saltosobre aquele piso lustrosos e escorregadio. Enquanto desfila a loira quarentona e roliça ainda tem tempo de falar ao telefone, olhar as vitrines, conversar e rebolar feito uma serpente.

Cruza com ela uma mocinha, de talvez uns 14 anos, de patins, cabelo duro e azul e umas luvas de meios-dedos, um de cada cor.

De lá vem um casal: ele gordo e careca, ela gorda e sorridente. Ambos vestem jeans e ambos usam chinelos. Ele: bermudão camiseta do Coritiba Football Clube e chinelão de couro, tipo São Francisco de Assis. Ela: sandália prata, salto baixo, saia jeans e camiseta preta escrita Michael Jackson e uma estrela de prata no peitoril. Lindos, os dois.

De cá vem um sujeito esquisito, óculos grossos e andar balançado. Procura pra todo lado por alguém que se perdeu na maçaroca de esquinas envidraçadas e espelhadas do labirinto. Quando achar, seja lá quem procura tão sério, coitado dele ou dela: vai ouvir, com certeza.

O atendente da TIM continua teclando no afã de resolver nosso problema.

Duas freiras passam por nós eu fico pensando: - O que será que traz a um shopping duas “noivas de Jesus”?

Passam mais dois mil meninos e umas duzentas e vinte meninas com seus fones de ouvido e risadas e tênis e milhões de cores berrantes.

Passa outro casal bem novinho, talvez em lua-de-mel. Ela barriguinha recém engravidada e ele com uma camisa nova, dessas de mangas curtas e vincadas ainda, de tão novas. Carregam uma sacola das Lojas Americanas e imagino o que vai lá dentro: tip-top azulzinho ou rosa; mamadeira de plástico da Mônica; fraldas descartáveis; cueiros e toquinhas, talvez.

Finalmente o atendente da TIM consegue resolver nosso problema com o celular e saímos dali. Para onde mesmo a saída?

Piso G – Esmeralda.

E subimos pelo elevador.
Para sair para o mundo de novo foram filas e mais filas na descida em caracol. O ar irrespirável.
Saímos para a noite lá fora e eu juro mais uma vez:
- Nunca mais! ... Nunca mais! ...



Enéas Lour
Maio/2011