Na Gazeta do Povo deste domingo,
20 de junho de 2010,
quatro novos autores revelados
pelo Núcleo de Dramaturgia do SESI Paraná
declaram sua pretensão no sentido de
renovar o “velho” (sic) teatro do Paraná,
que julgam ter “parado no tempo”.
Pois bem: concordo.
A dramaturgia no Paraná,
como de resto no nosso país,
está mesmo - e há muito tempo -
relegada a um plano irrelevante
no que diz respeito ao trabalho de
elaboração de pesquisa criativa.
O pretendente a exercê-la
encontra pouquíssimo apoio por parte
dos órgãos oficiais ou não oficiais de cultura.
Neste sentido, a iniciativa do SESI
de criar o Núcleo de Dramaturgia
merece nosso aplauso, como também
a iniciativa da Fundação Cultural de Curitiba
que abriga o projeto Oraci Gemba
de incentivo à criação de textos teatrais,
mesmo que nesta terceira edição
esse projeto tenha retroagido,
ao ser transformado pela FCC
em mero concurso de textos,
sendo que nas edições anteriores,
de forma inédita no Brasil,
apoiava a pesquisa
concedendo bolsa aos projetos de criação
dos dramaturgos locais.
Quando estes novos autores proclamam que
“necessitamos urgentemente mostrar
dramaturgias de linguagens diferentes
das que estão sendo feitas aqui em Curitiba”
é de se perguntar: por quê?
Por que necessitamos urgentemente
mostrar dramaturgias de linguagens diferentes
(sic)
das que estão sendo feitas aqui?
Seriam os nossos dramaturgos imbecis?
Estariam os nossos dramaturgos despreocupados
com a sua produção artística?
Despreocupados em atingir ou não um público
teatral ávido de vanguardismo?
O público curitibano clama por tais mudanças radicais
na forma como são encenadas
as peças dos autores locais?
Estariam o
“nosso teatro e a nossa dramaturgia muito antigos”
como afirma o quarteto de novos
dramaturgos curitibanos?
Não me parece que seja assim
ou que sejam estes os reais motivos
para que se proponha movimentos
de renovação radical em nosso teatro.
Logicamente, sou favorável à proposta
de constante renovação, de permanente busca pelo novo,
pelo digressivo, pelo revolucionário, ou seja lá como
se queira chamar esse tesão que têm,
e que sempre terão os artistas, jovens ou não.
Sem isto a roda não roda,
o mundo não anda, mas,
e é bom que se saiba,
fomos nós, os autores teatrais locais da
“velha e estagnada geração anterior”,
segundo esses jovens dramaturgos,
que a fizemos rodar até aqui.
E mais:
fizemos isso sem contar com apoios significativos
das entidades oficiais ou particulares de cultura,
que, como princípio deveriam - e devem- assim proceder
para que prosseguíssemos escrevendo
nossas peças teatrais,
propondo novos caminhos alternativos
e novas linguagens cênicas.
Fizemos isso sem apoio
e em tempos bem mais difíceis que os atuais
no tocante a produção artística,
em função da conjuntura política brasileira
em nossa juventude.
E o fazemos até hoje,
mesmo que para alguns possa parecer
que estamos parados no tempo.
Apóio a iniciativa desse grupo de jovens autores
quando remetem a necessidade de ampliarmos
uma discussão plural sobre a
produção dramatúrgica em nossa cidade.
Isto será sempre necessário.
Este trabalho contínuo de pesquisa e de elaboração
é matéria prima para que se apresente a novidade,
aflore o diferente, exista a discussão,
o contraponto e se progrida na concepção
de novas maneiras de se contar histórias
que reflitam a contemporaneidade,
cada vez mais complexa de nosso mundo,
sem ser, como acertadamente afirma Roberto Alvim
- coordenador e orientador da oficina de dramaturgia do SESI -
um “espelho da realidade”,
mas, uma das artes à disposição do ser humano
para ampliar sua maneira de ver o mundo.
Gostaria de atestar aqui que
a dramaturgia merece ser tratada com
muito maior significação pelas entidades culturais responsáveis,
pois, conheço bem a “desimportância”
com que tais entidades a vem tratando
nesses 35 anos de atuação nessa área.
Aos jovens que,
por seus conhecimentos ou por uma tendência natural
exercem papel de precursores ou pioneiros
em movimentos culturais, o que caracteriza a vanguarda
- e não uma vã guarda -
manifesto meu incondicional apoio
como representante de uma geração que
a duras penas, por meios próprios
e usando de unhas e dentes
conseguiu chegar até aqui.
Enéas Lour
dramaturgo curitibano autodidata