ENÉAS LOUR É ATOR, DRAMATURGO, CENÓGRAFO E DIRETOR TEATRAL

1 de abr. de 2012

MATANDO O TEMPO

MATANDO O TEMPO

Com agulhas de crochê a velha senhora mata as horas
(Marilda Confortin)

Era uma vez menina que logo, logo: velha.
Ponteiros de relógio que, loucos, viraram hélices de ventilador.
E os dias passaram velozes.
E o medo da morte: besta feroz.
Assim, mais que de repente, a pele murcha.
A vida passa.
A vista cansa. Catarata.
Reumatismo. Artrose. Lumbago.
Os dentes caem.
O marido morre.
Assim, mais que de repente, o carnê das prestações da funerária,
em vinte e quatro vezes, com a pouca pensão da aposentadoria.
Quase oitenta, a vida argumenta: já está quase na hora de ir embora.
Assim, mais que de repente:
Ai de mim: fim.



              Enéas Lour
                Março / 2012.

28 de mar. de 2012

TRISTEZA: MORREU MILLÔR FERNADES


 
Morreu um dos maiores intelectuais que este país já produziu. 
Millôr Fernandes, que a maioria conhece apenas como 
nosso melhor humorista, imortalizado por frases e aforismos, 
foi poeta, escritor, dramaturgo, cronista,
jornalista, desenhista e tradutor do inglês e do francês. 
Impossível substituí-lo. 
Impossível avaliar o que representa a sua perda para a cultura deste país 
cada vez mais pobre de inteligência.
 

22 de mar. de 2012

CURITIBA VESTIDA DE NOIVA - CARTAZ


ESPETÁCULO-SOLO DA ATRIZ CLÁUDIA MININI.

UMA PERSONAGEM QUE IA SE CASAR
NO DIA EM QUE NEVOU EM CURITIBA.
17 DE JULHO DE 1975.
A CIDADE SE VESTIU DE BRANCO, COMO UMA NOIVA.
ELA, PORÉM, NÃO SE CASOU.

A VIDA, SÓ É POSSÍVEL REINVENTADA.

TEXTO E DIREÇÃO DE ENÉAS LOUR
PARTICIPAÇÃO ESPECIAL
LUIZ CARLOS PAZELLO E SÍLVIA MONTEIRO
ILUIMINAÇÃO : BETO BRUEL

ESTRÉIA DIA 19 DE ABRIL
TEATRO BARRACÃO EnCENA
RUA 13 DE MAIO 160 - CURITIBA - PARANÁ

10 de mar. de 2012

INCRÍVEL !


Directed by Andrew Thomas Huang: http://www.andrewthomashuang.com
Cinematography by Laura Merians
Costumes by Lindsey Mortensen
Production Design by Hugh Zeigler
Makeup & Hair by Jennifer Cunningham
Produced at Moo Studios

25 de fev. de 2012

PERSONAGENS

 
FOTOMONTAGEM DE ENÉAS LOUR

Uma das funções do dramaturgo
- talvez, a principal - 
consiste em mergulhar no complexo universo da criação,
sempre repleto de enigmas, de contradições, 
de mistérios, de angústias e insanidades,
explorando-o sem medo, para dali extrair suas personagens.

Enéas Lour



23 de fev. de 2012

10 DICAS PARA QUEM QUER ESCREVER



A canadense Margaret Atwood, autora de mais de trinta livros de ficção, poesia e ensaios críticos, publicados em diversos países (Olho de Gato, Vulgo, Grace (ganhador dos prêmios Giller, do Canadá, e Mondello, da Itália) e Assassino cego (vencedor do Booker Prize de 2000) publicou no Guardian dez dicas para escritores.
A lista é ao mesmo tempo séria e engraçada. Por um lado, algumas coisas que ela fala são básicas demais. Por outro, o que ela quer dizer, no fundo, parece, é o que está em um dos conselhos: escrever é trabalhar. Não é para ser fácil.

Então, aí vai a lista dela:
1. Leve um lápis para escrever em aviões. Canetas vazam. Mas se a ponta do lápis quebrar, você não pode apontar no avião, porque você não pode levar lâminas com você. Portanto: leve dois lápis.

2. Se a ponta dos dois lápis quebrar, você pode tentar apontar de um jeito meio improvisado com uma lixa de unhas, das de vidro ou de metal.

3. Leve alguma coisa em que você possa escrever. Papel é bom. No aperto, dá para usar pedaços de madeira ou o seu braço.

4. Se você estiver usando um computador, sempre salve os textos novos num pen-drive.

5. Faça exercícios para as coisas. A dor pode te distrair.

6. Tente manter a atenção do leitor. (Isso tem mais chance de acontecer se você puder manter a sua própria atenção). Mas como você não sabe quem o seu leitor é, isso se torna algo como atirar num peixe com um estilingue no escuro. O que fascina A vai entediar B profundamente.

7. Muito provavelmente você precisará de uma gramática básica e de um pé na realidade. Esse último conselho significa: não há almoço grátis. Escrever é trabalhar. Também é fazer apostas. Você não tem direito a plano de aposentadoria. Outras pessoas podem te ajudar um pouco, mas basicamente você está sozinho. Ninguém está te obrigando a fazer isso: você escolheu, então não reclame.

8. Você nunca vai poder ler o seu livro com a expectativa inocente que vem com a deliciosa primeira página de um livro novo, porque você escreveu aquilo. Você estava nos bastidores. Você viu como os coelhos foram colocados na cartola. Portanto, peça para um leitor amigo ou dois para dar uma olhada antes que você entregue para alguém numa editora. Esse amigo não deve ser alguém com quem você tenha um relacionamento romântico, a não ser que você queira terminar com ele.

9. Não fique empacado no meio do caminho. Se você está perdido na trama ou teve um bloqueio, volte atrás e veja onde você errou. Então, pegue outro caminho. E/ou mude de pessoa. Mude o tempo verbal. Mude a página de abertura.

10. Rezar pode ajudar. Ou ler outra coisa. Ou uma constante visualização do cálice sagrado que é a versão pronta e editada de seu livro resplandecente.


22 de fev. de 2012

DRAMATURGIA

    (fotomontagem de Enéas Lour / clique na imagem para ampliar)

Dramaturgia é a arte de composição de textos destinados à representação.
A palavra drama vem do grego e significa ação. 
Deste modo, o texto dramatúrgico é aquele que é escrito especificamente para representar a ação cujo cerne é o conflito. 
Toda ação em cena depende do conflito e da maneira como as personagens agem para atingir seus diferentes objetivos.
A dramaturgia vem a cada ano e como reflexo direto de evoluções do teatro em si, sendo o resultado de subjetivações, renovando-se esteticamente, incluindo a preocupação de ser também objeto de expansão da linguagem, com experimentos que trazem avanços dentro da própria lógica de sua estrutura.

Enéas Lour
Ator / Dramaturgo e Diretor Teatral

22 de nov. de 2011

24 de out. de 2011

MEUS OLHOS ESTÃO DEGRINGOLADOS





Por Valmir Santos

A Súbita Companhia de Teatro
ergue uma cena francamente verborrágica sobre o indizível.

A palavra é veemente desde o título:
Meus Olhos Estão Degringolados
adaptação da diretora Maíra Lour para texto
do romancista americano Jonathan Safren Foer.

O verbo também está no coração da vida incomum
de um casal sob o mesmo teto,
partilhando a mesma máquina de escrever
e separados por muros, corredores,
demarcações territoriais de “algo” e “nada”
equilibrados segundo as convenções
desse homem e dessa mulher,
trazidos à cena por Otavio Linhares e Janaina Matter.

Os signos constitutivos da linguagem
os fazem suportar um ao outro.
Seria, grosso modo, a evolução de uma história de amor,
sua ascensão e queda.

A compressão temporal e espacial
é feita de falas curtas, numa espiral de exasperação dele, escritor estancado, diante do talento dela ao jorrar e apropriar-se do mesmo ofício.

A cena trata dessa perpendicular de duas pessoas
desmagnetizadas aos poucos, ampliando as distâncias.

No espaço austero da encenação,
linhas e embaraçamentos geográficos traduzem
as inquietações em movimentos, gestos e ações dos atores,
fluídos e interrompidos.

À tessitura da palavra soma-se o vocabulário da luz
(sombras narradoras de situações íntimas, por Daniele Régis)
e da música como exceção ao silêncio dominante
(o acordeão irrompendo com a dolência de Edith de Camargo).

Toda separação precipita sua sinfonia.

Postado por Mostra Cena Breve Curitiba

13 de out. de 2011

AMANHÃ É MEU ANOVERSÁRIO


PRESENTE DO INDICATIVO

(Expressa o fato no momento em que se fala)

 
A solidão é moeda de duas caras: o passado e o presente.

Nunca me acostumei com o presente.
Com o passado - vá lá! - tenho que me acostumar com ele,
visto que não tenho outro passado que não o meu.
Mas, com o presente?
Com o presente não consigo me acostumar.

O presente é muito perto. É muito curto.
Mal se experimenta e ele já se torna passado,
quase instantaneamente! Verbo freqüentativo.

Criei uma casca, um entre parênteses,
feito ostra, que me protege do presente
e isola-me dele, feito roupa de borracha
para mergulho em águas geladas.

Mas, não vivo do passado também.
Não! Vivo do futuro. Vivo de fantasia.

Sou ator e o teatro me deu isso
de presente para usar todos os dias.

A realidade cotidiana para mim
se compõe no futuro do pretérito.

Assim, para mim, os fatos futuros
se me apresentam sempre como que
relacionados a fatos acontecidos no passado
e, portanto, já meus conhecidos.

Eles,
os fatos presentes,
teimam em ir buscar raízes lá, no meu passado.
E isto é tormenta, é cabresto, é limite,
é fronteira intransponível, como os verbos intransitivos.

Quando faço aniversário, por exemplo,
relaciono o futuro, aquilo que virá ainda,
com o que já foi em todos os outros anos
passados e engomados.

Profetizo, na véspera da minha data natalícia,
que, a partir dali tudo será como foi antes,
nos outros anos corridos e engavetados:

Pretérito perfeito:
ficarei feliz, ficarei mais velho, ficarei sozinho.

O pretérito mais-que-perfeito
é um tempo verbal que se refere
ao passado do passado.

Enéas Lour
13 de outubro de 2011.

10 de out. de 2011

"Otto e Maria" Novo texto de Enéas Lour


Fui selecionado no Edital Oraci Gemba 2011 
- Novas Dramaturgias -
da Fundação Cultural de Curitiba
e estou escrevendo o texto de uma nova peça teatral
intitulada "Otto e Maria".
Tenho até julho de 2012 para entregar o texto original
para a publicação pela FCC.
Estou na fase de pequisa sobre o tema.
Uma estória de amor entre o filho de um poderoso senhor
de origem germânica filiado ao Partido Nazista
e uma mulher brasileira
nos anos da Segunda Guerra Mundial, em Curitiba.

Abaixo vão alumas fotos que coletei na pesquisa.








Há muito tempo as peças teatrais de minha autoria
têm como foco principal de narrativa a História da cidade de Curitiba.

Esta característica de minha produção dramatúrgica inicia-se
com criação da peça TRECENTINA, em 1994,
numa parceria autoral com Mário Schoemberger.

Naquela peça a cidade de Curitiba,
prestes a completar 300 anos de fundação
era a “principal personagem”.

Pesquisamos a história de nossa cidade e
com um grupo de 11 atores criamos uma obra satírica que,
devido ao seu grande sucesso de público e de crítica,
oportunizou a criação e encenação de mais três novas versões
desta obra intituladas:
Trecentina II (1995), 3centina (1997) e Trecentina 500 (2000).

Para a historiadora e professora Marta Moraes
e o pesquisador Ignácio Dotto Neto,
autores do livro “CONTRA CENA - O TEATRO EM CURITIBA”,
a peça “Trecentina” mudou o panorama da comédia em Curitiba.

Antes disso eu já havia pesquisado a História do Paraná,
como tema da minha peça “Pinha, Pinhão, Pinheiro”,
pela qual recebi o Prêmio Governador do Estado em 1985.

Em 2008 escrevi o texto
“Hanna Kowalick, A Bruxa De Curitiba”
no qual, mais uma vez abordo a temática da história de nossa cidade
no período de 1884 até 1903.
Por este texto recebi o Prêmio Oraci Gemba
de Fomento à Dramaturgia, da FCC / 2008.

Assim, apresento como justificativa
para a execução deste meu novo projeto,
a importância de que se reveste o incentivo
do poder público municipal aos dramaturgos,
para a realização de pesquisas e criação de textos,
em especial àquelas obras que promovam o resgate histórico.

Minha intenção com o projeto “Otto e Maria”
é justamente esta, qual seja:
pesquisar e criar um texto teatral que traga à cena
uma história ficcional baseada em fatos reais ocorridos em nossa cidade.

No caso desse novo projeto:
uma história de amor entre um jovem de descendência germânica,
filho de um influente cidadão curitibano que,
na época da Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945),
era adepto do pensamento nazista,
como de fato houve muitos cidadãos curitibanos
que apoiaram Hitler naquela época,
conforme pesquisa que realizamos junto ao Arquivo Público
e outras fontes bibliográficas.

Este rapaz – Otto - se apaixona por uma moça brasileira
não “ariana” chamada Maria.

Evidentemente meu texto não proclama, de nenhuma maneira,
a ideologia nazista, ao contrário,
a contesta veementemente quando expõe sua completa sandice.

Nossa intenção enquanto dramaturgo
limita-se ao registro histórico de alguns fatos
realmente acontecidos naquela época em nossa cidade,
acrescendo a trama com elementos ficcionais,
sem qualquer pregação doutrinária, política ou filosófica.

Enéas Lour
Outubro / 2011